Condenação já era esperada, desde a explosão da Caixa de Pandora
Os deputados distritais Aylton Gomes (PR) e Rôney Nemer
(PMDB) foram condenados ontem por envolvimento no suposto esquema de pagamento
de propinas em troca de apoio político ao Executivo, entre 2007 e 2009, na
Câmara Legislativa. O juiz Álvaro Ciarlini, da 2ª Vara de Fazenda Pública do
DF, mandou os parlamentares devolverem a mesada que teriam recebido e ainda
triplicou esse montante como multa pela participação no episódio. O magistrado
aplicou também uma indenização no valor de R$ 1 milhão a título de danos morais
para a população pelo constrangimento provocado pelo escândalo da Caixa de
Pandora, de repercussão nacional.
No total, Aylton Gomes terá de desembolsar R$ 2,092 mihões e
Nemer R$ 2,104 milhões para ressarcir os prejuízos apontados pela Justiça. Eles
também ficaram com os direitos políticos suspensos e impedidos de firmar
contratos com o Poder Público pelo período de 10 anos. Ambos poderão ainda
recorrer à segunda instância para tentar reverter a sentença. Esses são os
primeiros deputados distritais ainda com mandato condenados pela participação
nas denúncias da Pandora.
Álvaro Ciarlini já proferiu sentenças contra os ex-deputados
Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (sem partido) e Rogério Ulysses (sem
partido). Entre os parlamentares da base de apoio do governo Arruda, respondem
na Justiça a ações de improbidade semelhantes ex-presidente da Câmara
Legislativa Leonardo Prudente (sem partido) e o deputado Benedito Domingos
(PP). Eles estão com os bens bloqueados há dois anos, desde que os promotores
de Justiça do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (Ncoc), do Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios, responsáveis pela investigação,
ingressaram com as ações na esfera cível.
A indisponibilidade do patrimônio é um meio judicial de
garantir que as penas da Justiça, de pagamentos de multas e devolução de recursos,
sejam aplicadas. Quando a sentença transitar em julgado, ou seja, não houver
mais possibilidade de recurso, o dinheiro terá de ser pago pelos condenados,
sob pena de venda dos bens para ressarcimento. Procurado pelo Correio, Rôney
Nemer disse ontem que discorda da decisão do juiz Álvaro Ciarlini.
O deputado distrital sustenta que nunca recebeu dinheiro do
ex-governador José Roberto Arruda ou do delator da Operação Caixa de Pandora,
Durval Barbosa. “Acredito que, no Tribunal de Justiça, vão compreender a
verdade. A principal testemunha do caso (Durval) me inocentou. Disse que nunca
ouviu falar que eu tenha recebido dinheiro. Se ele é o delator, se tudo o que
ele diz consideram verdade, deveriam ter levado isso em conta”, afirma o
peemedebista. Por meio da assessoria de imprensa, Aylton Gomes afirmou que o
nome dele foi citado indevidamente em uma conversa de terceiros e até com a
grafia errada (Ayrton), segundo relatório da Operação Caixa de Pandora. Essa
referência seria a única ligação ao deputado do PR, que também vai recorrer.
Gravações
Nemer tinha esperanças da absolvição porque, diferente do que
ocorreu com Brunelli, Eurides Brito e Leonardo Prudente, não há vídeos com o
flagrante da entrega de dinheiro. A participação de Nemer é considerada pela Justiça
em interceptação de uma conversa entre Durval, o então governador, José Roberto
Arruda, e o chefe da Casa Civil à época, José Geraldo Maciel. Os três discutem
uma suposta partilha de dinheiro na base aliada. Nesse diálogo, há uma citação
a pagamento no valor de R$ 11,5 mil a Nemer e de R$ 40 mil a Aylton Gomes.
A defesa do
ex-governador Arruda alega que o conteúdo do diálogo era outro e foi tirado de
contexto. Os advogados sustentam ainda que houve uma edição dessa gravação,
feita pela Polícia Federal, com autorização do ministro Félix Fischer, atual
presidente do Superior Tribunal de Justiça. Um gravador foi acoplado ao corpo
de Durval durante uma reunião com Arruda e Maciel na residência oficial de
Águas Claras.